Tempos diferentes

Tenho uma leve suspeita que nascemos em um tempo errado ou chegamos atrasados ao nosso primeiro encontro.

Nos desencontramos tanto, que não consigo contar.

Ele chegou e conheceu outra pessoa. Eu cheguei depois e o vi partir. Ele se apaixonou, claro, ela era surpreendente. 

Algo transitório? Não! Não definiria assim. Digamos que foi um "estágio", um processo, um momento, uma lição, um aprendizado, mas eu sabia, não era permanente. Nem pra mim, nem pra ele. 

O tempo passou. Ele terminou, eu terminei. Choramos a saudade. 

Tivemos, ao nosso jeito, que reencontrar novamente formas de viver sem o outro, sem aquele outro que pensamos no momento que era o nosso. Começamos novamente e estivemos muito mais perto, eu cheguei, esperei. Ele chegou, se apaixonou novamente e perdeu a hora. Essa, diferente das outras, foi uma grande paixão. Ele pensou "é ela". Eu me apaixonei, não tinha dúvidas, havia o encontrado. Eu não fui tão longe, o que parecia porto se tornou brisa. Ele seguiu, mas nem tanto, logo fomos novamente visitado por nossa velha e companheira amiga, a ausência.

Retomei o caminho. Cheguei mais cedo, sentei e o vi chegar. Estamos no dia certo e no lugar exato. Ele se aproximou. Eu o senti a temperatura mudar. Eu estou pronta. Ele não. Eu sei exatamente quem ele é. Ele ainda não entendeu quem eu sou. Ele ainda sofre de ausência. Eu ainda sofro de espera. Estamos em tempos diferentes. Eu esperando por ele, ele esperando por ela. 

Eu estou aqui, esperando por dele. Ele está ali, correndo por ela. Os ponteiros ainda estão distantes. Um dia, eles vão se igualar e quando isso acontecer, poderei olhá-lo demoradamente, ele poderá me olhar e me reconhecer. Neste momento, talvez, possamos entender que não existia "se", mais cedo ou mais tarde iriamos nos encontrar. Quando isso acontecer, nenhuma palavra será necessária, saberemos que este é o único lugar onde realmente desejamos estar.

Abril de 2013



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