Quando terminar a travessia... volto para você!

Quantas travessias precisamos fazer para enxergar, para arriscar, para se permitir, para se encontrar? 

Não sei se encontrei "Ilhados", acredito que ele me encontrou.

Quando embarquei para o arquipélago, jamais imaginaria me perceber envolvida.Tudo começou quando conheci Nico, o personagem principal. Ele é um pequeno espelho de todos nós, leitores. É a inexperiência e o medo, a amizade e o amor, a descoberta e a inocência, é a definição da nossa fase mais bela, do período que a gente simplesmente transforma um minuto em infinito. Arnaud é o desejo, o desconhecido, o horizonte, a possibilidade, o sonho, a insensatez, o risco, o perigo, o encanto, o encontrar do paraíso.

A ingenuidade se apaixona pelo incerto. A incerteza paira. De um lado, a pureza de quem nunca realmente amou. Do outro lado, o medo de quem já se despediu. Tudo era tão novo para ambos, tudo era começar. Ambos estavam certos de onde estavam. Nico acreditava que nunca sairia daquele lugar, era o menino da ilha. Arnaud acreditava que seria apenas cumprir uma promessa de travessia. Ambos só não percebiam que em cada um existia um mundo e quando se encontrassem, visitariam o paraíso e descobririam que o infinito dura o eterno de um segundo.

Todos queriam sair da ilha, menos Nico. Todos queriam aventura, conhecer pessoas, arriscar. Elisa, a amante aventureira, o fez descobrir-se aos poucos, entender o que era sintonia, química, partilha e energia. Rebeca é a amizade. Aquela que enxerga de fora, aquela que o vê por inteiro. Américo e Augusto, amigos e testemunhas de uma juventude singular.

Os pais... quando nasce um filho, nascem os pais. Não chegamos com manual de instrução, mas eles nos recebem e do seu jeito simples, nos ensinam a ver o mundo. As vezes nem sabem direito como fazer, apenas tentam, nem sempre acertam. A dor que é nossa, parece ferir. Nossa tristeza transcende seu intendimento e os faz perceber o quanto impotentes são. Que vamos nos descobrir, nos apaixonar, nos ferir. Eles querem nos proteger, embora não entendamos, embora nem eles entendam. A figura dos pais em Ilhados é um leque de personalidades. Tem pais que não sabem falar, apenas gritam; outros temem tanto que se afastam; e tem aqueles, como os de Nico, que sentem, mas não sabem como dizer: tudo bem. É a forma mais bela de ver os pais, poder perceber que eles também são frágeis, que eles choram e sentem medo, que um dia eles partem e nos deixam com a sensação de ninho vazio, sem o calor das asas.

A construção psicológica dos personagens nos faz sentir em cada detalhe. O tremor do nervosismo, o medo de errar, a felicidade de sentir que enfim, se encontrou. A sensibilidade da escrita do autor toca a intimidade de quem ler. O medo, os sonhos, os desejos, o beijo... cada particularidade é sentida com todo calor do momento, seja calmaria ou tempestade. O cheiro, a brisa, o sol, o mar e o amor é experienciado sem que possamos perceber, estamos ali, incorporando os personagens e se permitindo, se vendo, se percebendo, simplesmente estamos ali, sentindo.

Os personagens me pareciam tão simples, tão despretensiosos quando comecei. Não li sinopse, não ouvi playlist, não olhei os capítulos. Curiosa fui direto ao texto. Nada parecia diferente do que eu imaginava em um romance. Um menino, uma amiga, um arquipélago, sexo, sol e a sensação ilusória de viver em um paraíso. Tudo parecia tão comum e tão tranquilo. Arnaud chegou e com ele a sensação que existia algo além dos limites até então conhecidos. A definição de paraíso não era mais um espaço a céu aberto, e sim ser presença para o outro, incondicionalmente.

Ilhados é um livro de amor, de descoberta e de recomeçar, de Nico e Arnaud, sim dois homens, dois personagens cuidadosamente pensados com características e sentimentos tão humanos e tão delicados que nos percebemos em cada detalhe. A história deles, não diferente das nossas, é o encontro, é o compartilhar a vida, de ser com o outro a possibilidade de viver essa experiência terrena da forma mais bela e singular, de ser com o outro a construção do paraíso, o porto seguro, o único lugar para o qual sempre desejemos voltar. O fim e o inicio. O terminar de uma etapa e o iniciar de outra. É ir, partir, deixar ir e voltar, ter para quem voltar. Ilhados nos possibilita experienciar o amor desmedido e quanta beleza existe nas diversas formas de fechar ciclos, deixar ir, recomeçar e amar, e ter, sem dúvidas, para quem voltar. 



Experimente!

Luke, obrigada pela leitura, você escreve com alma!


Um comentário:

Quando eu pensei que você fosse som, descobri que é poesia

O som, a voz, o ser. O jeito, a delicadeza, a inquietação, a possibilidade. O nada, a incerteza, o abismo. A aventura, o risco. Tudo iss...